segunda-feira, julho 21, 2003

Aos poucos a coisa vai!

Começam a aparecer os sinais inevitáveis de reconhecimento dos muitos aspectos positivos da governação guterrista.
Quem, como eu, tem uma visão da poli­tica muito mais abrangente do que a mera gestão económico-financeira e quem, como eu, acha que as pessoas são aquilo que realmente conta, não teve nunca dúvidas de que os governos socialistas de António Guterres versaram aspectos da governação muito diversificados de forma muito satisfatória, coisa que não estava-mos habituados a ver com Cavaco Silva e que rapidamente deixamos de ver com Durão Barroso.
Ainda que Durão Barroso se tenha revelado um Primeiro - Ministro com capacidades que nada faria prever (quem não se lembra do triste lider da oposição nos tempos de António Guterres), nomeadamente uma certa postura de Estado, É muito difí­cil ignorar a total incapacidade deste executivo.
É incapaz de incentivar, É incapaz de motivar, É incapaz de encorajar, e por isso torna-se incapaz de governar. Inclusive é incapaz de ir governando, porque as trapalhadas são demasiado frequentes.
E no entanto move-se. Move-se para se auto-afirmar, move-se para diminuir (diminuir a governação anterior tem sido o fio condutor da actuação deste governo) e move-se para oprimir.
Não deixa de ser curioso que mesmo nos dossiers em que a actuação tem sido positiva, e principalmente naqueles em que era necessário intervir para reformar, a actuação do tipo "elefante em loja de porcelanas" tem deixado marcas e criado anticorpos, que rapidamente terão a sua reacção, comprometendo a eficácia dessa actuação.
Lentamente, à  medida que as diferenças se vão tornando mais evidentes, as pessoas começam a perceber que a permanencia desta maioria no governo, é pura perda de tempo.
E as diferenças são cada vez mais evidentes. Os relatórios sobre o real estado da nação em 2001 começam a aparecer, com honrosos lugares na qualidade de vida, no sistema de saúde, etc. Mas basta só percorrer as praias e até percorrer as ruas. Que a dinamica cientifica e cultural iria sofrer sérios revezes já todos sabiamos, mas que a segurança descesse a ní­veis tão baixos não era de suspeitar. Até porque foi uma bandeira eleitoral dos partidos no governo. Agora já ninguem se preocupa com a segurança nas estradas, com o aumento da criminalidade, grande e pequena, com a segurança alimentar, com a segurança das instalações, nomeadamente contra incêndios, etc., etc.. No entanto os indicadores são cada vez mais graves. Parece até que há problemas com a nossa aviação civil.
Aos poucos as pessoas vão percebendo. Hoje é já difícil encontrar um eleitor satisfeito por Ter votado neste governo. Noutro contexto, até poderia ser bom sinal. Poderia ser sinal de que o governo não governa para as sondagens, e que as medidas difíceis mas necessárias são sempre pouco populares. Mas não é disso que se trata. Trata-se de que as medidas difí­ceis são completamente inconsequentes, e as medidas consequentes, que são as que foram tomadas para reduzir o défice, são uma desgraça. Não é fácil para ninguem entender como é que o PSD não deixou o PS vender a rede fixa da Portugal Telecom pelo preço justo e foi depois vender por um preço muito inferior. É no mí­nimo caricato e ninguem aceita, mas muito menos aceita quando a medida lhe mexe no bolso, como é o caso do PEC. Se vale tudo porque é que não vendem agora os Jerónimos, pensa o taxista e o comerciante. Ou o Alqueva ou outra coisa qualquer. Estas incompreensões, que só o são para quem não quer ou não pode ver, vão aos poucos alimentando a desconfiança. E quem acredita, como eu acredito, que os eleitores não votam só em função do dinheiro que tem no bolso, sabe que isto tem que mudar. E que não vão bastar uns tostões para satisfazer a malta em ano de eleições. Muito menos discursos rocambolescos sobre mares de rosas, semanas depois da tragicomédia da tanga.
As pessoas sentem, não são números. As pessoas contam, e cada vez mais sabem que contam. E aos poucos, com os sinais que todos os dias vão aparecendo, a diferença vai-se fazendo.