terça-feira, outubro 28, 2003

A entrevista do Presidente Sampaio

Não quero com este mail debater as virtudes, ou falta delas, do Presidente Sampaio. Nem a entrevista especificamente. Gostei, embora não tivesse produzido em mim nenhum tipo de excitação ou entusiasmo políticos. Possivelmente porque já esperava aquilo mesmo e dei por mim com mais atenção às perguntas e trejeitos dos entrevistadores do que propriamente às respostas.
No entanto houve uma coisas fundamental nesta entrevista, a "aura de presidente" do presidente. Jorge Sampaio foi, do principio ao fim "O" Presidente. Alguém que não tivesse som no televisor, ou outro alguém que não tivesse imagem no televisor, não poderiam deixar de se aperceber que aquele é o presidente.
Há qualquer coisa em Jorge Sampaio (muitas coisas, claro), como há em Mário Soares que lhes dão a dimensão apropriada (ou a que mais se aproxima) da figura de presidente, neste sistema político semi-presidencialista obviamente discutível. Eanes não transportava essas características, apesar da voz profunda.
Por isso procurei durante a entrevista imaginar ali um outro presidente. Um dos possíveis candidatos.
A primeira exclusão vai para Cavaco Silva. Para além de ser perfeitamente possível dar a entrevista a comer bolo rei, falta-lhe abrangência e talvez profundidade. Jorge Sampaio é abrangente, sem no entanto deixar de ser especifico (aqui quero mesmo dizer especifico).
A segunda exclusão vai para Santana Lopes. Tem muitas "primeiras-damas" e falta-lhe profundidade, embora tente ser abrangente. Jorge Sampaio consegue ser profundo e suave ao mesmo tempo (aqui quero mesmo dizer suave). Veja-se a forma como falou das três experiências hospitalares, Matosinhos, Feira e Amadora-Sintra. Só pode falar assim quem tem um conhecimento muito, muito razoável dos casos. Ele conseguiu evitar possíveis ingerências incómodas e até promover o incentivo.
A terceira exclusão vai para Mário Soares. A idade é quase incontornável e a serenidade também. Jorge Sampaio é sereno (sereno demais dirão alguns). Como diria um grande professor que eu tive, há momentos de genialidade que só se conseguem nas faixas temporais limítrofes da vida. Na primeira infância ou na velhice. Assim é também com algumas exaltações que em Mário Soares são muito evidentes. Alguns dos seus actuais momentos não seriam possíveis dez anos antes e ainda bem pois não serviriam a presidência da republica.
A quarta exclusão vai para Freitas do Amaral. O jogo de cintura aliado à obesidade não lhe permitirão nunca acertar com a porta de Belém. Jorge Sampaio apresenta sempre uma rectidão admirável. E não parece ser gordo.
Pelas minhas contas sobram António Guterres, Marcelo Rebelo de Sousa e uma mulher. Se chegar a aparecer alguma mulher eu mudo o termo para senhora. Mas digo isto porque algum dia terá que ser. Já há muito que não temos uma candidata e os tempos estão para isso.
Quanto aos dois que sobram, eu voto em Guterres, claro. Antevejo no entanto uma luta renhida, com pormenores que só Deus sabe, ou não fossem eles confessados pelo mesmo padre.
Um abraço